31.5.06

representamen

Significação mutante...
Signimutação ficante...
Mugnisicação fitante...
Simugnifitantecação...

Quando o pensar reverbera no espaço.
Onde o pensar reverbera no tempo.
Onde o pensar reverbera no espaço
Quando o pensar reverbera no tempo.

Significação mutante quando-onde o pensar reverbera no tempo-espaço.

6.5.06

Relatividade Cega

(derivado de "de repente violento")

O vazio então toma forma de preenchimento e o escuro é de veludo negro. Veludo negro aconchegante sensual perigoso e o mundo é um grande vidro de nankin. Jeff é tudo e nada pois é forma indistinguível mergulhada no nankin do mundo. Jeff é, naquele segundo de blackout, blackover, blackall, blackever. Tudo É. Jeff É. O vazio É. Um mesmo líquido. Nankin de veludo. O então nada torna-se tudo denso e os olhos de jeff sentem o escuro penetrar forte como a luz outrora penetrava, fumaça táctil de possibilidades. O olho é que vai a busca da imagem, não mais a imagem vem ao olho.
O Blackout dura 3 segundos. Mas Jeff fecha as janelas, apaga as luzes e as velas, não liga mais o computador. A cidade inteira move-se em velocidades e direções, cada uma delas medida em metros, quilometros por hora ou megabytes por segundo. E a cada qual corresponde uma luz que passa cortando o vazio como a ponta de uma agulha sem agulha. Só o finco. Led. Risco. Luz. Verde. Vermelho. Amarelo. bip. fuoom. foosh. zzzsssum.
Jeff é o seu escritório que é no mundo agora (mundo onde não existe o agora)um recipiente cubo bloco preto negro recheado de volume buraco. Um buraco negro no meio da cidade pisca-pisca. Um pause.
Jeff permanece sentado em seu lugar, imóvel, no escuro, por duas horas. Depois, acende a Luz. O mundo teve uma pausa de dois segundos. Jeff esticou a pausa. Mas só esteve fora por dois segundos, que para Jeff, duraram duas horas.

5.5.06

ninguém no mundo

pego uma caixa de cigarros e penso...

estranho: vivemos num mundo onde vende-se venenos sob embalagens atraentes.

quero dizer, venenos nem sempre têm escrito 'veneno' no rótulo, e nem sempre o produto na prateleira do mercado só está ali porque foi aprovado.

ninguem está cuidando destas coisas para nós. cabe a cada um não se deixar enganar.

contexto

O adolescente no quarto azul turquesa de luz indireta senta em uma cadeira confortável com diversos ajustes em frente a dois monitores de LCD com adesivos na parte de trás, sobre uma mesa de madeira escura e ampla, estilo antigo.
O garoto, sempre ágili em seus giros sobre a cadeira, recoloca os grandes fones de ouvido que repousavam em seus ombros e abre uma gaveta abaixo-à-direita. A mão remexe o interior da gaveta, por entre diversos memory sticks de variados formatos, chicletes, sedas e balinhas de maconha.
Rapidamente um memory stick é inserido em um dos seis slots laterais do teclado preto. A música começa em seus ouvidos e ele aumenta o volume no dial gigante de um receiver analógico, joga-se pra trás em sua cadeira de mola e de couro e fecha os olhos. Um sistema irreconhecível e de interface pouco amigável se manifesta na tela.

CENA: A Musiquinha Que Não Quer Para De Requebrar

Quatro ou cinco rapazes sentados em uma mesa de um pequeno restaurante vazio na Argentina.
- Eu não sei se vale a pena.
- Então temos que falar com ele, a gente segura por uma semana.
- Uma semana é muito tempo. Não vai dar.
A musica ´don´t wanna short-dicky men´ toca ao fundo repetidas vezes enquanto os rapazes discutem por um longo tempo.
Os rapazes balançam-se nas cadeiras e semi-dançam a música sem perceberem.
Finalmente, após muita discussão o grupo chega a uma conclusão:
- Porra... claro, tava dizendo.
- Tá, tá. Já entendi.
- Beleza...
A música some em fade-out e fica completo silencio.
Enquanto um fuma em pé o outro bebe uísque.
A música recomeça.
- Puta que o pariu! - cortando o silencio - Essa merda dessa música de novo. - exclama o rapaz enquanto começa a requebrar-se.
É impossivel não dançar.

CENA: "tiroteio 1"


Tiroteio urbano. Falta de perícia; medo, raiva. Absurdo. Estouro e susto. Ladrão vagabundo que anda armado invade residência de pai de família classe média baixa que guarda um 38 na gaveta das cuecas. Ambos pouco usaram as armas. Inicia-se um tiroteio dentro de casa, um tiroteio desajeitado e perigoso na penumbra. Perseguição pelas peças, esconde-esconde adulto, ladrão preso na casa estranha não consegue fugir. A Mulher, assustada com os tiros. NAO HÁ MUSICA. Cena ultra-realista. Só há a respiração ofegante, o suor e o MEDO. Câmera de mão. Alto contraste. Mulher é acertada na coxa. Ela chora e grita, o tiro dói. O bandido foge, a familia chora reunida, roupa úmida de sangue, filha de 6 anos apavorada, um mundo se desfazendo, o divórcio eminente (o marido tinha uma amante). Fade-out para preto, a tela permanece negra por quatro segundos, o único som é o choro da família. Lânguido de dor e fraqueza.

o manifesto do PLI

PLI (TAVARES, 2004): PLI é como o SI, porém mais amplo.
Uma pessoa "em si", remete à ela própria em seu próprio corpo e tão somente isto.
Uma pessoa "em pli" faz um load do que diz respeito à ela, seu corpo e toda a sua obra, toda a sua vida e sua influência no mundo;
Eu, Guilherme, em pli, sou eu, a minha casa, minha namorada, meu cachorro, meu gmail, meu carro, meus amigos e a influência que tenho neles e eles em mim, minha familia, meus filhos, a vaga que ocupei na faculdade, o amor e o ódio das pessoas para comigo e vice-versa.
Enfim, PLI transcente os limites do corpo e se expande até onde algo possa ser associado ao núcleo do significado, à memória dobjeto.
Uma pessoa em si é uma coisa, uma pessoa em pli são muitas coisas sobre si.
Amar em pli é mais do que amar a pessoa, é amar a ela e a toda a sua representatividade, façanhas e façanhuras [façanhas futuras].

Eu, homem (niilismo 01 )

Não existe ninguém nos apoiando em lugar nenhum. Estamos sozinhos sem saber direito para onde ir em um universo infinito. Se hesitarmos, se errarmos, morremos. e é isso.
não há esperança.

o pavor de realizar esta idéia, (no sentido inglês de "realize"), é o causador da auto-defensora idéia de que existe um Deus. de que existe um Antes.

mas não há. só eu e você. desperdiçando nosso tempo como imbecis, com nossas atividades ridículas e irrelevantes, que nos ocupa e nos faz esquecer de que existe um universo lá fora e que eu não sou capaz de compreendê-lo. ou de me compreender nele.

3.5.06

De repente violento.

Era uma vez Jeff, um experiente programador de softwares. Ele estava em seu local de trabalho, em frente ao seu computador pessoal cuja tela apresentava uma absurda quantidade de informação. Desktop apinhado de ícones e caixas de texto contendo linhas e linhas de palavras e caracteres bizarros, típicos da sua linguagem de programação. Escutava nos fones os primeiros compassos do último jazz que sua namorada virtual lhe enviara segundos atrás.

Embora seu ambiente permanecesse indiferente às modificações do tempo e do clima, lá fora a noite era de vento e chuva, era uma noite fria. Mas o minúsculo escritório continuava iluminado pela tela do monitor e aquecido pela presença do homem e da máquina. Dedos e olhos frenéticos tamborilavam e capturavam imagens respectivamente. Jeff se comunicava, Jeff trabalhava.

Num de repente violento (tão violento quanto a aristotélica negação do interstício existente entre as palavras deste texto) toda a realidade de Jeff se transforma em algo muito próximo do zero, em algo muito próximo do nada. No tempo de um corte seco de cinema, uma força qualquer lhe tira tudo. [volta a luz mas eu não vou acender] Há sensação de perda e de incapacidade,

Pois tudo se perde no instante do corte.
Do corte o instante que põe tudo a perder.
É brutal a perda no instante de tudo. Corta!
No instante do corte se perde realmente Tudo.

O que se passa a seguir é tão interessante quanto isso.
O vazio é preenchido de escuridão e de silêncio.

Tudo agora é preto.
Tudo agora é silêncio.
Tudo agora é só preto e silêncio.
Antagoniza-se ao extremo a luz e a comunicação dos momentos precedentes.

Jeff reage de forma passiva e analítica a esta brutal metamorfose. Cala-se, cala sua mente, cala seus dedos. Um pouco por espanto, um pouco por apego à luz, abre bem os olhos. Não se move. [A mãe acorda, vem até a sala e acende a luz. Eu apago as velas. O cheiro da fumaça do sebo me consola. Penso no longuíssimo intervalo – tão longo quanto for a intensidade da vontade pela imediatez – entre o fato experimentado e a sua transcrição em uma folha de papel; entre o acontecimento da idéia de uma história na mente e o armazenamento dessa história em alguma mídia. Há tantas modificações. A própria escrita já deforma. Sem falar nas possibilidades de “pós-produção”, aparo, pontuação etc. Agora só quero falar que em um momento eu só quis contar a história de alguém que teve vontade de escrever no papel, a luz de velas, uma história parecida com a dele onde o momento chave (o ápice, a reviravolta, o escambau...) é um blackout geral no quarteirão. O texto já está (quase) todo digitado mesmo.]

2.5.06

Devagarinho...

"O relógio anda devagar, as preocupações desaparecem, o corpo relaxa, o trivial fica engraçado. O pensamento salta de idéia em idéia, uma mais genial do que a outra. Depois dá fome. Tudo fica gostoso: molho de tomate pronto, pizza de ontem, sorvete derretido. Após algumas horas, o barato vai embora como chegou: devagarinho. No mundo inteiro, 147 milhões de pessoas experimentam essas sensações regularmente".

Revista Playboy - Março 2004

Um belo dia na praça São Pedro (ou: cliente é foda, desde a Idade Média)

Papa Júlio II: Tô achando essa Igreja muito sem graça...
coroinha (anônimo): De que maneira, Santo Padre?
Papa: Sei lá... acho que falta uma pinturinha no teto.
cor.: Sua Santidade pretende mandar pintar de que cor?
Papa: Tô afim de contratar um pintor pra fazer uns desenhos aí, cenas da Bíblia, essas coisas... que essa vidinha aqui dentro tá um saco, o vinho é sempre o mesmo e a decoração não ajuda...
C: Posso falar com meu amigo Rafael, ele estuda pintura com os grandes de Florença...
Papa: Hmmm.. não... esse garoto, Rafael, tem talento, mas não tem criatividade...
C: O Santo Padre prefere então um artista experiente... que tal Leonardo?
P: Também não.. Leonardo tem um parafuso a menos.. dizem que ele coloca coisas escondidas nas pinturas... e há boatos de que ele é bruxo... inventa bugigangas e viola a morada dos falecidos, para abrir-lhes o corpo! [fazendo sinal da cruz]
C: Sacrilégio...
P: Mande uma mensagem para Miguel Ângelo...
C: Caravaggio?
P: Buonarotti.
C: O escultor?
P: Escultor, Arquiteto, Pintor, preciso de um artista! Chame o Buonarotti. Se ele não pinta, terá de aprender.
C: Pois não, Santo Padre.


[Quatro anos depois]


Coroinha: Belo trabalho deste Michelângelo em Santo Padre?
Papa: Belo trabalho? Trabalho o meu, você quer dizer! Além de ser rabugento e mal-educado, o tal Michelangelo me coloca todo mundo pelado no teto da Capela! Onde se viu isto?
C: Sua Santidade gostaria que eu ordenasse Buonarotti a corrigir a heresia?
P: Pois é... mas ele cobra muito caro. Faz assim, chama esse guri teu amigo, o Rafael, e manda ele pintar uns panos aí por cima pra disfarçar.
C: Sim, Santo Padre.