24.11.06

14.11.06

assuntitulilustratio-cousa

Alterocopia tranfusiva intervém estrutultipanamente na penumbra sob pena de morte.

3.11.06

A Intervenção te Desafia

Por mais bairristas que sejamos, certas ocasiões nos levam, inevitavelmente, a lamentar a nossa realidade local. A falta de acontecimentos artísticos - fora do underground - de alto teor crítico, reflexivo e até sarcástico, nos faz passar por situações cômicas, como foi o "caso de polícia" acontecido com as recentes intervenções urbanas em Pelotas.
Como os próprios artistas disseram, a polêmica acontece porque a sua arte incomoda, porque não é "bonitinha". E ela tem extamente esse propósito: incomodar (tirar do comodismo), gerar reflexão e discussão que antes não existiam, sobre alguns aspectos urbanos.
A intervenção urbana tem no seu espírito o caráter da ironia, às vezes da denúncia. Pois ela utiliza a cidade como suporte, e estabele com a cidade a sua relação, para causar no cidadão a reflexão. A captura da atenção dos transeuntes em transe na realidade urbana só pode acontecer - dada a profundidade do transe e do comodismo atual - através da surpresa e do inusitado. Por isso, a intervenção urbana "de raíz" acontece mesmo sem aviso prévio. São os graffitis nas ruas, os stencils, os cartazes do "vote ninguém". Uma manifestação artística silenciosa e instigante. Uma arte que faz parar pra pensar.
Por um lado, a intervenção em grande escala ocorrida no prédio central - abandonado e inacabado - revelou o despreparo e o descostume que temos com esse tipo de manifestação artística contemporânea. Explicitou nossa realidade provinciana, com autoridades entrando em parafuso e a mídia noticiando polêmica, causadas meramente por uma intervenção artística que ousou ir além do agrado visual, desafiando o observador a pensar, a não fugir de uma realidade desagradável que ele já havia aprendido a ignorar, no seu transe cotidiano rotineiro.
Por outro lado, a obra atingiu plenamente o seu objetivo. Provocou discussão, reflexão. Virou assunto, evidenciou problemas. Questionou supostas premissas. E fez isso de forma bem humorada, aliás, utilizando a mais inteligente das formas de humor - a ironia. Infelizmente, ter o bom senso, ou o bom humor de compreender uma boa ironia não é para todos.
Temos ali duas obras. A obra do prédio e a obra de arte. As perguntas que devem ser feitas são: qual das duas obras é o problema? Qual das duas obras é a verdadeira intervenção urbana? Qual das duas obras caracteriza, de fato, uma ocupação equivocada? O problema sempre esteve ali, a arte apenas o evidenciou.