22.3.07

iNovation



(ou: considerações sobre a Apple e por que Steve Jobs merece o título de Guru)

Na onda que está por vir, da nova geração de telefones celulares, muito têm-se criticado a Apple.
Jobs teria se precipitado ao anunciar o seu produto com tanta antecedência, o que pode - e vai - dar tempo para a concorrência analisar o produto e preparar o seu contra-ataque com mais recursos. Isso tudo é verdade, mas Steve foi além de simplesmente querer lançar o melhor telefone do mercado, tecnicamente falando. Ele tomou a iniciativa e de cara manteve uma tradição da Apple - ser a vanguarda da tecnologia.

Afinal, de quem estamos falando agora? do iPhone. Que outro telefone como este você conhece? Pois é. 'Ah, a sony vai lançar um melhor que o iPhone'. 'Ah, a Google promete um para 2008 que vai deixar o iPhone no chinelo'. Isso tudo pode acontecer, mas já não é o que interessa. O iPhone tornou-se o termo de comparação, e esta é a vitória. Todas as promessas do que vêm por aí, serão inevitavelmente comparadas com o iPhone, da Apple, que foi pioneira e criou mais um objeto de desejo que todos vão copiar e tentar superar. Nessa tentativa, os concorrentes ficam presos ao desafio lançado pela Apple, e abrem mão de criar o seu próprio desafio, sua própria inovação.

Em vez de reservar seu lugar no mercado por um ou dois anos, a Apple reserva um lugar na história. Seus produtos, mais que simples aparelhos, ficam eternizados como pivôs das guinadas sócio-culturais. A essa altura já não importa mais, para Steve Jobs, se o Gphone da Google vai ser melhor que o iPhone. Este jogo já está ganho e, enquanto todos disputam o segundo lugar, Jobs provavelmente já está planejando o seu próximo lançamento, algum outro gadget que mudar - para melhor - a forma como as pessoas vêm fazendo alguma coisa até hoje. É disso que se trata a Apple, inovação, reciclagem dos paradigmas.

Por tudo isso, a apresentação oficial do iPhone não poderia ter sido melhor. Steve jobs recapitulou os grandes lançamentos da Apple, começando pelo Macintosh, a revolução dos computadores de desktop (e ao qual Bill Gates deve agradecer muito por ter tido a chance de copiar e ficar rico); depois, mostrou o iPod, a revolução da música. E, finalmente anunciou o lançamento de 3 novos "devices": Um celular, um iPod, e um "negócio de acessar a internet". Detalhe: tudo em um só, que cabe no seu bolso.

Não é à toa que entre todos os CEO's da tecnologia, Steve Jobs seja o único reconhecido - e merecido - Guru.

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Seriedade em excesso é inimiga da inovação, e com karma não se brinca

Steve merece o título porque foi posto à prova e provou. Fundou a Apple nos anos 70 com um perfil de empresa totalmente diferente, inovador até para os parâmetros de hoje. Tudo isso que a Google faz hoje em dia, o ambiente de trabalho descontraído, a forma de selecionar funcionários pela personalidade e não pelo curriculum vitae, a Apple já fazia. A Google está repetindo a fórmula, com sucesso.

Steve tomou várias rasteiras no seu negócio e isso mostra que o cara não está mesmo muito aí para as burocracias e sim pela inovação, ás vezes incorrendo até em ingenuidades. Em vez de CEO, Steve era mais adepto ao LSD. À là George Harrison, curtia mantras e krishnas, e sua empresa era o que podemos chamar de uma "comunidade hippie capitalista".

A primeira rasteira ele tomou de William Gates III, que não era nenhum rei da escócia, era o rei dos nerds mesmo, conhecido como Bill Gates. Todo mundo sabe, A Apple lança o Macintosh, com sistema operacional de janelinhas e mouse, Gates vai lá, copia tudo, rebatiza como Windows e fica rico.

A segunda rasteira foi quando Jobs contratou o CEO da Pepsi-Cola: "Você quer vender água com açúcar para o resto da vida, ou quer revolucionar o modo como as pessoas vivem?" Dois anos depois o tio da Pepsi demite o próprio Steve Jobs da Apple.

A Apple precisava se tornar uma empresa séria! Este mesmo termo, "sério", foi usado antes pelos engravatados da IBM ao dizer que "nenhuma empresa séria vai usar um sistema operacional baseado em janelinhas e no uso de uma coisa chamada mouse". Steve provou o contrário.

Ninguém acreditava mais na hippiepshychobabble que o Steve estava mergulhado, mas o peso do karma levou a Apple quase à falência desde a saída do Steve.

Em 1995 Steve Jobs volta aclamado à Apple. De cara, surge o iMac. Aquele computadorzinho que não tinha disquete e parecia ser só um monitor com teclado. Depois vem iBook, i-isso, iAquilo, iPod, iPhone. Steve impôs seu respeito.

O outro Steve

Muita seriedade trava a criatividade, mas alguém precisava segurar as pontas quando Steve estava viajando (em LSD ou para a Índia). Para isso a Apple desde o inicio, desde a garagem, conta com um cara que não leva muitos méritos, mas tem tanta participação e importância quanto Jobs.

Steve Wozniack, a.k.a. "the other Steve". O outro Steve sempre foi fiel ao Guru, e foi ele quem o trouxe de volta à Apple em 95.

Viva a Old School. Viva os Steves. Que a Google aprenda com eles e não nos decepcione.