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14.11.07

Tropa de Elite

Em termos de cinema, Cidade de Deus faz Tropa de Elite pedir pra sair.

Tropa de Elite é um filme forte e explícito. Assim como o são, quaisquer filmes amadores feitos com celulares que mostrem algum tipo de flagrante grotesco e violento. Mas isso não quer dizer que esses vídeos sejam "bons filmes" ou belas obras cinematográficas.

Com Tropa de Elite há uma grande confusão entre ser um filme marcante e ser um ótimo filme; tem muita gente por aí achando que esse é o melhor filme nacional dos últimos tempos.

Tropa de Elite, como obra cinematográfica, é apenas razoável. Deixa a desejar em diversos aspectos. E um bom filme é, afinal, o conjunto de diversos aspectos.

Tropa não apresenta nada de inovador ou surpreendente para a linguagem do cinema: o roteiro é simples, a história é linear e óbvia, a perspectiva sobre o tema das drogas é maniqueísta e superficial.

Os recursos cinematográficos como direção de arte, montagem das cenas, enquadramentos e trilha sonora são meramente tradicionais. A trilha sonora, melhor dizendo, é ruim e mal utilizada.

"Cidinho e Doca", ainda é engraçado em sua precariedade, mas "Tijuana" beira a cafonice. Também não lembro da trilha sonora fazendo o complemento perfeito para alguma cena específica do filme.

O que sobra, então, para o sucesso de Tropa de Elite?

Além das repetitivas e gratuitas cenas de violência, que encontram respaldo na curiosidade mórbida do público, sobra o personagem principal, o anti-herói Capitão Nascimento. Com a ótima atuação de Wagner Moura, temos um personagem invencível (que não leva nenhum tiro, nunca), caricatural, exagerado e folclórico, cheio de jargões a serem histericamente repetidos pelo papagaio verde e amarelo (atende pelo nome de povo).

Para fazer uma comparação fácil, pense em Cidade de Deus. Este sim, um filme que retrata a mesma realidade, mas com um roteiro complexo, riqueza de personagens (com a perspectiva narrativa a partir de um personagem lateral e de sua trajetória particular), montagem não-linear e boa aplicação da trilha sonora. CDD faz Tropa de Elite pedir pra sair.

O que fica mesmo não é o filme, mas o personagem. Capitão Nascimento daria um ótimo personagem para uma mini-série em quadrinhos, algum tipo de Sin City brasileira, em um clima sambanoir onde o que importa são as breves aventuras recheadas de sexo, drogas, violência e presença de espírito nas frases clássicas do anti-herói. Sem nenhum compromisso em apresentar algum tipo de visão crítica e política, puro entertaining.

Talvez esse tenha sido justamente o erro do filme. Quis ser crítico e inteligente, mas desistiu, deixando um personagem promissor perdido em um clima de quero-ser-documentário. Não se tirou proveito de uma coisa nem de outra.

Um dia alguém disse que o cinema brasileiro vai ficar bom mesmo é quando ele deixar de querer parecer brasileiro. Não sei quem foi, mas concordo.