22.10.06

Odeio falsas verdades

Foda-se a sorte do orkut,

É o mundo maravilhoso de Willy Wonka,

A Fantástica Fábrica de Chocolate,

Walt Disney World,

O país das maravilhas de Alice,

A 101 virgens islâmicas,

Adão e Eva COM maçã e SEM serpente,

O mundo dos teletubbies,

O lugar onde não venta,

Onde não chove,

Onde não existem terremotos,

Onde o amor constrói,

Os sorrisos anunciam a felicidade,

As pessoas andam de mãos dadas,

Os casais são almas gêmeas,

Eu não faço parte desse mundo,

Sou carnívoro,

Não gosto de flores,

Não quero sorrisos,

Não acredito em duendes,

Não acredito em sorte,

Não acredito em conseqüência,

Acredito no caos,

Já dizia o cantor,

Não consigo ser alegre como a Xuxa...

(complemento o querido wander wildner)

E eu.. não consigo ser faceiro como o orkut....

3.10.06

REVOLVER


1 - Please Please Me
2 - With The Beatles
3 - A Hard Day's Nigth
4 - Beatles for Sale
5 - Help!
6 - Rubber Soul
7 - Revolver
8 - Sgt Pepper`s Lonely Hearts Club Band

9 - Magical Mistery Tour
10 - White Album
11 - Yellow Submarine
12 - Abbey Road
13 - Let It Be

A lista acima mostra os discos dos Beatles na ordem em que foram lançados. Em algum momento desses 13 passos, eles deixaram de ser os Beatles do ye,ye,yeah, para se tornarem os Beatles Monstros. Digo Monstros pq dá a idéia de grandeza e de revolução, já que definir só como "psicodélico" ou qualquer outra palavra dessas é impreciso e parece que fica sempre faltando conceitos a serem embutidos na definição. (Pois é essa parte que fica de fora quando se tenta definir Beatles em algum estilo clássico, que forma o tal do 'algo a mais' que eles tinham, mas que é difícil dizer o que é, com precisão).

O momento dessa revolução no estilo musical dos Four Tops pode ser facilmente deduzido olhand-se a lista. Ele fica exatamente no centro e tem um nome sugestivo: Revolver. (Esqueça o sentido da palavra revolver como pistola, e pense em revolver como aquele que faz a revolta, ou a revolução).

Não há dúvidas de que foi o Revolver o agente da revolução. Mas para mim, essa revolução é uma trindade, que começa um pouco antes e se concretiza um poco depois. Ela é anunciada em Rubber Soul, acontece em Revolver e atinge a maravilha em Sgt. Peppers.

Como se em Rubber Soul os Beatles tivessem ousado e provocado a indagação do público, para então chegar com Revolver e deixar bem claro pra quem não entendeu, o que é que eles estavam fazendo. Revolver é um novo Rubber Soul, só que desta vez perfeito, como quem faz melhor na segunda vez por ja ter feito uma experiência antes. Ou talvez eles tenham apenas decidido fazer a transição mais levemente.

Esgotando as metáforas, como quem dá o primeiro passo em um terreno desconhecido para testar a segurança do solo, é Rubber Soul; e como quem conhece o terreno e entra com os dois pés dentro dele, vem Revolver. E depois disso, claro, como quem saiu correndo confiante em nunca mais voltar, vem Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band.

Rubber Soul poderia ser só uma experiência, uma introdução leve de uma certa psicodelia, mas Revolver vem logo após, cru e direto, para de fato marcar uma nova fase e dizer que o Rubber Soul não foi só uma experiência, foi uma evolução.

E essa é a grande importância de Rubber Soul e Revolver na perfeição de Sgt. Peppers, porque eles preparam-lhe o terreno. E Sgt. Peppers vem com toda a tranquilidade de quem já rompeu, já recomeçou e já está mais do que atuando de maneira diferente, com segurança e entusiasmo no novo estilo.

Rubber foi o último de um estilo, Revolver foi a divisão, e Sgt Peppers foi o primeiro do novo estilo. E pra muitos, inclusive para mim, foi o melhor dos Tops.

Isso explica, talvez, a crueza musical de Revolver que coexiste, no mesmo álbum, com a riqueza e a psicodelia. E ainda cabe, paralelamente, uma análise individual - John Lennon, é quase punk de tão cru, se não fosse tão letárgico: Taxman, She Said, Doctor Robert, I'm Only Sleeping. Paul McCartney, com riqueza instrumental e melódica: Eleanor Rigby, For No One. George Harrison, na onda do Hinduísmo: Love You To. Ringo Starr, fantasia bem humorada, em estilo conto de fadas: Yellow Submarine.

Isso ainda poderia ser imaginação minha, mas se tratando de Beatles, duvido que seja. Além do título "Revolver" sugerir uma revolução, o álbum começa e termina reforçando esta idéia. Começando com Taxman, logo na primeira faixa um som cru e novo, com a primeira frase: "let me tell you how this will be...".
E finalizando com "Tomorrow Never Knows", a faixa mais estranha e experimental do álbum, que além do título instigando a curiosidade para o amanhã, tem a letra:

"Turn off your mind, relax
and float down stream
It is not dying
(...)
But listen to the
color of your dreams
(...)
Or play the game
existence to the end
Of the beginning
Of the beginning
Of the beginning"

Vejo isso como um "relaxe e não se preocupe, não é o fim dos Beatles, mas o novo começo". E para saber mais: http://en.wikipedia.org/wiki/Tomorrow_Never_Knows

Em Sgt. Peppers, vem a consagração de toda essa revolta: o núcleo das músicas é Revolver, mas a ele se acrescentam mais cores, sabores e floreios. E podemos analisar suas músicas em analogia às de Revolver, citadas anteriormente: Ringo de novo bem humorado com A little help, Paul instrumental: She's Leaving Home, Fixing a Hole, Sixty-Four. John psicodélico e experimental: Lucy in the Sky, Mr. Kite, A Day in Life; George Hindu: Within You.

E falando em cores, se Revolver é cru e Peppers é florido, observe as capas dos álbuns e encontre ali uma representação gráfica do conteúdo musical. Revolver preto e branco, a traço - literalmente um rascunho. Sgt Peppers colorido, literalmente povoado de cultura pop, literalmente florido e literalmente cheio de fantasia.

Assim, com Sgt. Pepers a arte transcende a música e o disco, Beatles multimídia, o álbum é mais do que uma peça material isolada, é parte de um grande evento que envolve a capa, as histórias e os mitos que correm perpendiculares atravessando as músicas de forma quase viral, seja fomentando mistérios com trechos ao contrário nas músicas, com a foto do Paul de costas, ou envolvendo o público na fantasia - literalmente - com a fantasia de Lonely hearts Club Band de recortar que acompanha o álbum. Por isso sgt. Peppers é uma obra de arte completa, composta em maior parte por seus elementos intangíveis - cenário, imaginário e mito - do que por suas partes materiais.

Assim, Rubber Soul, Revolver e Sgt. Peppers compõem a santíssima trindade dos Beatles, que pode ser interpretada como, respectivamente:

ANUNCIAÇÃO - REVOLUÇÃO - CONSOLIDAÇÃO


Mas se eu pudesse mudar alguma coisa, pegava I Am The Walrus e jogava pra dentro do Sgt. Peppers.