6.4.09

Shirley

O viadinho saiu correndo com a cara igual a um tomate esmagado. Cinqüenta anos no ramo e as mesmas merdas de sempre, só que eu já não tenho mais paciência nem necessidade de ficar me explicando. Cheguei onde cheguei e me dou ao luxo de falar só o necessário: serve, não serve, tá bom, tá ruim, te-manda-filho-da-puta.

Não sei onde eu tava com a cabeça pra contratar uma bicha. Ou melhor, eu sei, tava com a cabeça (do pau) enfiado no rabo da vagabunda. E que rabo, vale dizer.
É covardia, a puta mexe mais que touro mecânico, o melhor quarto do Brasil, quer dizer, o quarto do motel era uma bosta mas os quartos da potranca, "inenarráveis" (como eu li uma vez numa revista enquanto cagava). Mais troncuda que qualquer zagueiro da terceira divisão colonial argentina.

E olha que eu não sou nenhum marombado de academia. Sou magro, velho, feio e narigudo. Ás vezes eu tô gordo, mas sempre feio, narigudo, e cada dia mais velho. Mas eu tenho personalidade (pau grande). Isso eu não escondo, tenho uma benga de dar medo, mas é no medo que elas ficam molhadinhas e eu viro elas do avesso.

Mulher é bicho engraçado, me dar o rabo pra sair na revista não tem problema, mas tinha vergonha do fotógrafo. Pra agradar aquela munaia aceitei contratar uma bichinha. Tivemos que refazer todas as fotos porque não saiu uma foto que prestasse.

Que bicho infeliz é viado. A vadia queria receber o dobro. "Trabalhei o dobro", ela disse. Passei a vara no cu dela sem lubrificante pra ela ver o que é regatear comigo, tô nessa há muito mais tempo minha filha. Igual a ti eu ja botei várias pra dentro. Mentira, aquela não tinha igual. Mais aí eu penso, e tem mulher igual?
Acho que ela queria mesmo era levar ferro, depois desistiu de pedir o cachê em dobro e fez tudo direitinho. Pensando bem, mulher é tudo igual.

Revista de mulher pelada não tem quem não goste, homem ou mulher. E fotografar é a coisa mais fácil que tem. Ja corri a grito uma centena de artistão querendo enfeitar a cena. Besteira. O pessoal quer VER. Ver o cu, a bunda, a buceta com todos os detalhes. Ver a mulher de quatro, com cara de puta. É isso, é fácil. Cinquenta anos depois eu sei muito bem o que presta e o que não presta.

Bunda tem que ter sempre. E se a vadia não tem bunda eu já digo minha filha, nesse ramo o currículo é a bunda. E pelo visto tu não trouxe a tua. Peitão é legal, mas sem bunda não rola. Só volta aqui quando tiver bunda, tchau. Isso quando eu tava de bom humor. Hoje nem explico mais merda nenhuma. As mais patricinhas eu mando pagar um boquete, elas pensam que tá feito e depois eu digo que elas não preenchem os requisitos da revista. Quando ela faz carinha de choro eu meto dois dedos na bucetinha e com a outra mão pego da garganta e digo olha aqui sua putinha não vem fazer drama no meu escritório, tu veio aqui pra chupar pau, pra revista tu não presta. Te manda. E teve várias que voltaram, só pra levar de novo. Elas gostam, eu também.

Depois que ganhei uma grana montei meu esquema, eu só fico atrás da mesa. Nem sempre é essa putaria, tem dias que é corrido, mando entrar uma por uma, as vezes todas juntas, ficarem peladas na minha frente. Já elimino metade aí, não tenho que perder tempo com putinha meia-boca, ta cheio de potranca na rua. Umas são gostosas mas eu não vou com a cara. Sei lá, tem homem que é gente boa mas tu não vai com a cara dele, tem cara de otário. Mulher também tem isso, umas com cara de "eu sou cheia de opiniões" eu já mando embora. Gosto de puta, cara de vagabunda mesmo, e com sorrisão. Mulher tem que ter sorrisão, tem que dar o cu sorrindo, levar tapa sorrindo, e eu só rindo.

Mas deixa eu te falar do meu negócio. Revista tem que ter impacto e alta rotatividade. Tem coisa que é tiro e queda, por exemplo, mulher molhada. Molhada, ou então bezuntada com azeite, ou numa banheira cheia de leite, tanto faz. O negócio é que sempre que eu botei mulher lambuzada na capa da revista, vendeu pra caralho. Aí é fácil, se a mulher é gostosa, bota ela de quatro, agachada, arregaçada, tá feito, tem impacto. O marmanjo fica babando e 9 em cada 10 compram a revista.

Por isso que eu não gosto de playboy. Folheio aquela merda em 2 minutos e não vejo nada que preste, um desperdício. Os marmanjos pagam um nego e um cachimbo pra comprar a revista, esperando finalmente ver aquilo que eles ficam só imaginando quando a gata aparece na TV, mas que decepção: a revista mostra no máximo a bica dos teto. Se eu encontrasse aquele velho milionário filho da puta dono da playboy eu ia dizer: "your magazine is shit".

E é por isso que eu fico puto com os imbecis que aparecem pra fotografar pra mim. Porra, caralho, o viado pegou a shirley, essa morena dos quartos que eu falei, passou o dia tirando foto, umas duzentas, pra escolher umas dez ou quinze, e nenhuma delas mostrava o rabão com clareza. Só aquela coisa meio de canto, meio escondendo, vai tomar no cu seu viado. Que porra é essa? cade a bunda?

Aí o puto veio com um papo de que "o que não mostra é o que provoca", alguma coisa assim. Não entendi direito mas não gosto de papo de viado. Cheio de língua presa e firulas pra falar comigo, eu nem tava escutando direito porque ele fez uma coisa com o olho e eu não sabia se ele tinha piscado pra mim ou não. Por via das dúvidas, peguei um busto de bronze que tinha em cima da mesa, acho que era o Getúlio Vargas, sei lá de onde saiu aquilo, e enfiei no meio da fuça daquele viado de merda. Nunca mais apareceu.

Depois dessa fiquei louco por um cigarro, mas eu tinha parado de fumar. Entrou a Shirley na sala fazendo um escândalo por causa do viadinho. Como eu falei antes e não expliquei, revista tem que ter alta rotatividade. Isso quer dizer que depois que uma vadia vendeu a revista dela, tenho que arranjar outra e não posso me apegar. Já tinha enchido o saco daquela vagabunda também, e chamei meu parceiro Moisés. Aí Moisés, tem um crivo? já leva essa puta aí contigo. Viu só vadia? te troquei por um cigarro e eu nem fumo!

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