8.8.07

Adolescente francês é preso por tradução pirata de 'Harry Potter'

" Neste mundo gerado pelo usuário, é um tiro no pé coibir a ação de um fã que traduz uma obra de 700 páginas gratuitamente".

A polícia francesa prendeu um adolescente de 16 anos que fez uma 'tradução pirata' do último livro do Harry Potter.

Segundo a notícia no G1, os investigadores ficaram surpresos com a qualidade da tradução, considerada semiprofissional. A notícia diz ainda que o jovem não teve nenhum fim lucrativo com a sua tradução, apenas era um fã que dominava muito bem o inglês.

Isso nos leva a pensar muito sobre a disparidade das burocracias mundiais em relação ao que é, verdadeiramente, a realidade social de hoje.

Não cabe aplicar a pena de uma lei a este jovem, como se ele estivesse fabricando cópias ilegais e vendendo livros piratas há dez anos atrás. As coisas mudaram e quem tem dificuldades são aqueles que ainda vivem sob o modelo obsoleto de comércio e sociedade.

Não tendo nenhuma intenção de lucro, nem de prejudicar os donos da obra, o que se pode realmente dizer do jovem francês é que ele é inteligente, capaz e altruísta. Tudo isso deveria ser enaltecido em vez de punido.

Não sendo uma cópia com a intenção de se passar pelo original, tudo o que ele fez foi contar em francês uma história que ele leu num livro inglês. Se despertou o interesse de muitas pessoas, se o acesso foi fácil porque ele utilizou a internet como meio (e porque não utilizá-la hoje em dia?), parabéns a ele por sua capacidade, não há nada aí para ser punido.

J. K. Rowling, sua editora e sua distribuidora deveriam tirar melhor proveito dessa realidade, usando a internet para divulgação e como catalisador de vendas. Neste mundo gerado pelo usuário, é um tiro no pé coibir a ação de um fã que traduz uma obra de 700 páginas gratuitamente.

Cabe aos marqueteiros adaptarem-se à nova realidade e botar a criatividade pra funcionar, inventando uma forma de lucrar nesse novo paradigma. Talvez eles tenham que abrir mão de alguma coisa, como o controle absouto de suas imaculadas propriedades. Paciência; hoje, tudo são versões e releituras, mixagens e colagens, a informação é mutante e orgânica, inconstante.

Proibir a ação das pessoas não só é impossível como é errado. Não irá se submeter a sociedade ao mercado, mas sim o mercado à sociedade.

Um comentário:

HumptyDumpty disse...

O que vale hoje não é mais uma obra fechada e imutável, mas uma obra-embrião, que germina na criatividade coletiva dos fãs que alfere por qualidade, e cresce sem limites previsíveis de forma ou mídia.

o mundo descrito por Tolkien em Senhor dos Anéis, por exemplo, continua a crescer e eriquecer pela ação dos fãs. A quantidade de material a respeito, hoje, é imensurável.

Os originais se mantém, mas não se bastam. Ninguém mais quer (e nem precisa) ser passivo no entretenimento e na cultura. Todos podem ser ativos e colaboradores. Gostem os autores ou não. Os que não gostarem, que encerrem suas obras em um cofre, ainda que seja ele sua cabeça.