Chico Homem de Melo, em seu livro "os desafios do designer" faz uma observação interessante sobre as revoluções na mídia literária. Gutenberg promoveu uma mudança drástica no processo de produção em série. Mas ele não modificou a concepção dos livros e a forma de leitura. A primeira grande revolução na literatura aconteceu muito tempo antes, quando trocamos os rolos de pergaminhos (onde um livro era uma página contínua de rolagem horizontal) pelo formato de códice, ou seja, uma pilha de páginas retangulares, encadernadas. Na passagem do manuscrito à prensa tipográfica de Gutenberg, o formato dos livros permaneceu o mesmo.
Com o surgimento da internet, aí sim, soltamos as amarras do formato encadernado e, de certa forma, até retornamos à página contínua, só que agora a rolagem é prioritariamente vertical, na tela do computador. Agora, com o surgimento dos e-books, mais uma revolução de formato acontece, pois o livro virtual pode ser carregado no bolso. Mas não precisa ser folheado, e não precisa ser impresso, pode conter áudio, vídeo, interação.
Assim, dadas as possibilidades, projetar e escrever para e-books é muito mais do que apenas um bom texto. O livro do futuro não pode ser uma mera transcrição do papel para a tela. Há de se quebrar essa fronteira do simples "texto corrido" e passar a pensar em formatos totalmente novos e dinâmicos. Essa é a verdadeira revolução: não da mídia, mas do conteúdo.
Meu palpite pessoal? mesmo com tudo isso, o livro de papel, o jornal impresso e a revista, nada disso vai desaparecer. Não enquanto as novas tecnologias não puderem reproduzir com exatidão o aconchego do toque, da textura, do olfato no contato com o material impresso. E além disso, se é pra tentar imitar, melhor deixar o original (real) que cumpre bem o seu papel. O virtual deve vir a acrescentar, oferecer possibilidades novas, e não para substituir e fazer exatamente a mesma coisa que o papel já faz, com excelência.
Por tudo isso, eu acredito muito mais no iPad do que no Kindle. Ambos são capazes de armazenar o conteúdo de milhares de livros, sem ocupar espaço. Ok. Mas enquanto o Kindle tenta imitar uma folha de papel (se eu quisesse uma folha perfeita, eu comprava o livro de verdade), o iPad é capaz de oferecer muito mais recursos de mídia e interação do que apenas uma imitação do livro de papel. Além de, é claro, oferecer muito mais recursos do que apenas a leitura de livros.
Algumas pessoas criticam muito o iPad por causa da sua tela de LCD. Isto tornaria a leitura cansativa e, supostamente, ninguém aguentaria o cansaço ocular de ler um livro inteiro em uma tela luminosa. Já o Kindle tem uma tela que não emite luz e seria menos cansativo.
Mas o Kevin Rose, fundador do Digg.com, levantou um ponto pertinente em um episódio recente do Diggnation: Todos nós passamos horas a fio em frente ao computador, olhando para enormes telas de LCD. A maior parte deste tempo, estamos LENDO. Emails, blogs, notícias, twitter, forums, etc. Somando tudo, talvez muitos de nós lemos o equivalente a um livro por dia, ou mais, na tela do computador. E ninguém sai escandalizado com os olhos terrivelmente danificados por isso.
Na telinha do iPhone, na palma da mão, a experiência é ainda mais agradável. Basta ser prudente e ajustar corretamente o brilho da tela e o tamanho da fonte. No iPad só pode ser melhor ainda.
3.3.10
O Papel do Livro
Por
HumptyDumpty
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